16 dezembro 2006

Futuro sem lembranças

Texto: Danilo Augustus
Foto: Gerhard Spinotti
Estava voltando da faculdade e pensava na vida. Passei por algumas ruas costumeiras, quando me deparei com uma lembrança: uma casa simples, com um banquinho e uma árvore na porta da frente.
Toda minha infância na pré-escola me voltou à mente, quando vinha com meu pai e conversávamos sobre como fora o meu dia de brincadeiras e travessuras na escolinha sentados no banquinho, em baixo da árvore.
Não estou com saudosismo mas, às vezes, sinto falta de encontrar uma árvore e poder sentar e conversar com meu pai, esquecendo do tempo e dos trabalhos do cotidiano que nos impedem de viver uma vida mais tranqüila.
Lembro que, nessa conversa que tinha na infância, era sempre eu quem falava e meu pai só ouvia: ora meus gritos entusiasmados, ora meus risos altos. Muitas vezes eu levantava para mostrar-lhe uma determinada cena que acontecera comigo minutos antes e ele só me olhando com cara de fascinação e com o pensamento de que seu filho estava crescendo.
Rememorando minha infância, recordo logo dos parques aos quais minha família ia aos finais de semana para passear e fazer um piquenique. Era gostoso ficar conversando com eles e comendo debaixo de uma árvore e, em uma delas, eu até tinha feito um coração com as minhas iniciais e as da minha namorada. Pensando bem, eu não tinha idade nem para saber o que era beijo, imagine para namorar.
Num desses passeios, eu lembro que fiquei encostado em uma das árvores do parque para descansar um pouco, pois pedalara demais. Foi quando eu vi o pôr-do-sol mais exuberante da minha vida. Era um montante de cores e vibrações que até hoje não me esqueço.
Alguns anos depois, me via nesse mesmo parque me encontrando com meus amigos para conversar, jogar baralho e ver as meninas correndo pra lá e pra cá. Nessa mesma época, havia uma árvore perto de casa em que, todo sábado, fazíamos uma fogueira ao redor e transformávamos o lugar em um luau.
Hoje, quando volto da faculdade, penso que muitos anos se passaram, que muitas coisas mudaram e fico triste ao pensar que muitas crianças no futuro não terão as mesmas lembranças que eu tenho por não terem uma árvore.

5 Comments:

At 9:07 PM, Blogger *£ua* said...

Invadindo... xD

... Em compensação, aquela árvore onde tantas coisas aconteceram, poderá fornecer sombra para q outros acontecimentos, tão bons qto os relatados, aconteçam com outras pessoas... xD

Bjus

 
At 10:38 PM, Blogger mel said...

Muitas crianças não têm árvores... e muitas outras também não têm pais. Lindo seu texto, comovente mesmo, hehe! Fez meu saudosismo aflorar...

 
At 11:21 PM, Anonymous Anônimo said...

Danilo,
Invejo você. Não tive esses momentos com meu pai...

 
At 2:17 PM, Anonymous Anônimo said...

Que texto lindo!! E muito verdadeiro. Eu sou muito saudosista e sinto saudade de tudo e concordo com vc: também fico triste de pensar que outras crianças não vão viver o que vivemos. Parabéns pelo texto.

 
At 5:16 PM, Anonymous Anônimo said...

Este texto é a maior expressão da saudade que temos da infância. Queria ter tido esses momentos com meu pai. Nunca foi possível. Lembranças faz parte de nossa vida. Infelizmente não tem como voltar.
Parabéns, Esta reflexão fez-me lembrar de tantas outras que tenho vontade de escrever

 

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